PURITA

Ainda estou para saber o que de tão ameaçador tem o Joe Berardo para a cultura portuguesa, para andar a deixar as intelectualidades nervosas.

Ai que se comercializou o amor à arte, Portugal curva-se perante o empresário madeirense, ele não aprecia arte, só a vende...estou para saber em que museu não se paga para entrar [tirando pelintras como eu que aproveitam o Domingo grátis até às 2], ninguém pergunta à D. Thyssen o que ela acha de apaixonante na obra de Gauguin, ou do traço do Picasso!

Goste-se ou não do género do Sr. José, a verdade é que ele tem uma colecção invejável, [algumas peças já viajaram até à Tate, ao MoMa] e gastou o dinheiro dele a construi-la e cá para mim vergonha seria deixá-la sair do país!!!

E se em Lisboa não estão contentes, mandem isso cá para cima, para pormos ao lado da Casa da Música!

Este ano o programa foi de altissímo gabarito:

Jantar na melhora tasca da terra [a minha], el Cid na Avenida dos Aliados, fogo na Ribeira, e terminar com Quim Barreiros em Massarelos.

caramba, que às vezes até irrita quando o povo não se engana...

desta vez por bons motivos: quando se fecha uma porta, realmente abre-se uma janela!

ps. era bom se isto arejasse um bocado, não era?

esqueçam o tetris, o pacman e a sopa de letras...

quem quer estar sem fazer nenhum com estilo, tem que jogar isto!

[fotografia das imagens do google]

' se a minha vida fosse um filme americano a esta hora estava desesperadamente a tentar arranjar um 'date' e preocupada com a toilette'

ps. será que me vão dar um autocolante com o nome?

Dá-me pouco gosto sair do cinema e pensar:'bem, foi mais ou menos, nada de especial'!

Mas faz parte, nem sempre estamos predispostos a receber a mensagem que um filme pode ou pretende transmitir! Mas quando nos damos conta que não nos sai da cabeça, e revemos as personagens, e há um sonzinho qualquer que não nos larga, é sinal que é uma espécie fatal de filmes, os de efeito retardado!

Com Iklimler/climates aconteceu-me isso...ontem quase que adormeci no cinema, não fosse a única companhia presente na sala manter-me acordada com medo de um surto de psicopatia[mas isto é outra história...]!
É um filme em que parece que não se passa nada, apresenta a receita do costume: casal em crise, separação, tentativa de reconciliação, tudo por decisão [quase] unilateral do homem da história [não, não pensem que este comentário é feito em tom crítico, é um pormenor].

Mas os silêncios levam-nos mais longe, e agora apercebo-me de como me revi em alguns dos olhares da personagem feminina. Reconheci a desilusão, a incompreensão, o abandono...uma nova alegria com a reaproximação e novamente a desilusão!
O filme vai-se compondo em diferentes climas, passando de um calor abrasador até chegar ao nevão e gelo com que termina...e, realmente, sai-se um bocado frio...

Mote [autor identificado]: Na pequena vila piscatória Fagundes deixava-se levar pelo canto das gaivotas à espera do arrastão que tardava em chegar. Pensava em anos passados, naqueles em que sozinho, deixava-se levar pelas curtas missivas de um amor correspondido que nunca havia passado da tinta de escrever.

Era assim já há alguns dias...entrava a correr, subia a escada a correr (uma ou outra nódoa negra...) e já lhe acontecera deixar a porta da rua escancarada! Lembrava-se de um anúncio com contra relógio e quando se sentava respirava de alívio...ali estava ele! E ele relembrava-a dos dias passados em Fagundes, do canto das gaivotas (esta não a convencia muito, odiava pássaros, mas enfim, aceitava que fizesse parte do cenário), dos barcos que chegavam e partiam...ela viera num deles sem um adeus, um beijo, nada que a aproximasse fisicamente dele...no meio daquela parvónia piscatória, imune ao progresso, apenas pescaram o email um do outro! Um paradoxo super moderno, pensava e ria!
Apercebeu-se que fora minuciosamente observada, por uns olhos que não voltou a ver, mas que leram perfeitamente o calor de uns dias de praia quentíssimos, a visita às ruínas, o jantar dos candeeiros! Esses olhos viram nos seus uma tristeza profunda, mas com um enorme fundo de esperança que fazia com que tivesse um brilho intenso! (quase que desmaiou quando leu isto...as miúdas são mesmo fáceis de conquistar). E, de alguma forma, criaram um amor correspondido que nunca passou das palavras!
Nunca contou isto a ninguém, porque achou que ninguém ia realmente compreender o conforto que sentia por sabê-lo ali, só a pensar nela. Mais nada.

duo marisco fresco, galiza
[composições modernas que contam estórias de lagostas que viajam de marrocos até à galiza, ou a morte do polvo...]

ps. SANFONA: cordofone originário da Idade Média. As suas cordas são calcadas por um disco giratório, e não friccionadas. Chegou a ser uma espécie de parente pobre do órgão de tubos, substituindo-o nas igrejas que não podiam ter órgão.